Agroecologia: uma alternativa para se viver bem no campo
Kátia Maria Trindade
O grupo de pesquisa “Sustentabilidade – as questões ambientais, econômicas e sociais no campo”, da Escola Superior Dom Helder Câmara, fez, em 2 de maio de 2008, uma visita ao assentamento Pastorinhas, em Brumadinho/MG. Sob a coordenação da professora de Direito Agrário, Delze dos Santos Laureano, e os cuidados de Valéria, uma das líderes do Assentamento, o que tivemos foi uma verdadeira aula no campo. Pudemos conhecer a realidade de famílias pré-assentadas em um programa de Reforma Agrária que se beneficiam de sua organização, trabalhando, se alimentando e vivendo com a dignidade que não vemos nas periferias das grandes cidades.
Imbuídas de forte consciência ecológica e cientes das implicações desta postura para a agricultura e a questão da terra, as Pastorinhas – como carinhosamente são chamadas as mulheres do assentamento -, ao lado dos companheiros de luta, têm adotado, no ideário e na prática, posições muito firmes em relação à agroecologia, promovendo e preservando práticas agrícolas tradicionais e sustentáveis. Segundo Valéria: “Para se produzir deve haver um equilíbrio entre todos os seres vivos e o meio”, ou seja, deve haver um equilíbrio entre nutrientes, solo, planta, água e animais. O resultado é a produção de alimentos livres de agrotóxicos e um modo de cultivo com pequeno impacto ambiental e economicamente viável, o que representa um ganho muito grande para toda a natureza e para os trabalhadores.
Kátia Maria Trindade
O grupo de pesquisa “Sustentabilidade – as questões ambientais, econômicas e sociais no campo”, da Escola Superior Dom Helder Câmara, fez, em 2 de maio de 2008, uma visita ao assentamento Pastorinhas, em Brumadinho/MG. Sob a coordenação da professora de Direito Agrário, Delze dos Santos Laureano, e os cuidados de Valéria, uma das líderes do Assentamento, o que tivemos foi uma verdadeira aula no campo. Pudemos conhecer a realidade de famílias pré-assentadas em um programa de Reforma Agrária que se beneficiam de sua organização, trabalhando, se alimentando e vivendo com a dignidade que não vemos nas periferias das grandes cidades.
Imbuídas de forte consciência ecológica e cientes das implicações desta postura para a agricultura e a questão da terra, as Pastorinhas – como carinhosamente são chamadas as mulheres do assentamento -, ao lado dos companheiros de luta, têm adotado, no ideário e na prática, posições muito firmes em relação à agroecologia, promovendo e preservando práticas agrícolas tradicionais e sustentáveis. Segundo Valéria: “Para se produzir deve haver um equilíbrio entre todos os seres vivos e o meio”, ou seja, deve haver um equilíbrio entre nutrientes, solo, planta, água e animais. O resultado é a produção de alimentos livres de agrotóxicos e um modo de cultivo com pequeno impacto ambiental e economicamente viável, o que representa um ganho muito grande para toda a natureza e para os trabalhadores.
Vimos uma lavoura onde hortaliças se misturam às ervas nativas. O que a agricultura tradicional considera “erva daninha” ou “mato” serve como fonte de alimentação alternativa aos insetos. Valéria, de uma forma muito pedagógica, ensina como fazem o controle natural de pragas: “Os insetos voltam-se para as ervas que são mais atraentes, as que possuem flores de cores fortes, deixando de lado as hortaliças”. Elimina-se, assim, a necessidade de aplicar venenos. Além disso, as ervas nativas ajudam a nitrogenar o solo. Toda a adubação é orgânica.
Os trabalhadores e trabalhadoras do Assentamento Pastorinhas dedicam-se ao cultivo de hortaliças desde o primeiro dia da ocupação em 14 hectares do assentamento, área antes ocupada pela monocultura do capim brachiara. Apesar de produzirem uma quantidade razoável de legumes e folhosas, enfrentam dificuldades para obter uma renda justa com a sua produção. A saída tem sido a venda direta aos consumidores, o que retira os atravessadores do caminho.
Outro problema relacionado à agricultura familiar agroecológica, segundo Valéria, é a falta de recursos e financiamentos. A lentidão na liberação dos recursos públicos faz com que a maioria dos trabalhadores desista da empreitada. A produção de sementes é realizada no próprio assentamento, mas os assentados encontram algumas dificuldades em realizar esta atividade. Como a maioria dos horticultores ainda prefere comprar sementes híbridas, ao invés de melhorar as suas próprias, não é fácil encontrar sementes “crioulas” para permuta. Diversas são as dificuldades nesta tarefa. As sementes de alface, por exemplo, exigem um cuidado maior, por ser uma planta muito sensível ao seu ambiente. O milho tem de ser plantado isolado senão cruza com espécies já modificadas. As sementes de tomate são todas modificadas o que praticamente impossibilita o cultivo sem veneno, por isso o assentamento Pastorinhas opta por cultivar apenas o tomate cereja.
Valéria nos fala de toda a história das Pastorinhas, da ajuda que receberam da Cáritas, entidade da Igreja Católica que atua apoiando os trabalhadores do campo. Foi a Cáritas que promoveu a aproximação do grupo com o MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - e ajuda nas negociações com o INCRA. Valéria conta: “lutamos muito para conseguir um pedaço de terra. Ficamos muito tempo acampados debaixo de um viaduto da mineradora Vale. Queríamos ocupar a fazenda que estava improdutiva, mas devido à Medida Provisória do FHC e mantida por Lula, não ocupamos”. (Trata-se da Medida Provisória 2183-56/01, que proíbe a vistoria de imóveis rurais ocupados por sem terra.) Em 21 de dezembro de 2003, cansados de esperar pela prévia vistoria do INCRA, as famílias sem-terra ocuparam a fazenda da qual, somente em 2006, receberam a posse.
Hoje, o grupo conta com vinte famílias de pequenos agricultores rurais; outras cem desistiram ao longo da luta. As tarefas são divididas entre os assentados e o trabalho coletivo é realizado sob a liderança das mulheres. Por isso, o nome do assentamento “Pastorinhas”, uma homenagem a essas mulheres que tanto conquistaram durante os anos de dedicação ao movimento de luta pela terra.
As famílias ainda enfrentam grandes dificuldades, como a falta de energia elétrica, o desconforto dos barracos – as famílias continuam morando em barracos de lona-preta devido à morosidade para se conseguir o crédito para habitação – o perigo de ataque de animais, entre outros. Entretanto, percebemos que, no Pastorinhas, os trabalhadores/as estão construindo, através da agroecologia, uma alternativa para se viver bem no campo, resgatando a cultura dos antepassados, produzindo alimentos de qualidade para todos, do campo e da cidade, e uma relação harmoniosa entre os seres da natureza.
Valéria nos fala de toda a história das Pastorinhas, da ajuda que receberam da Cáritas, entidade da Igreja Católica que atua apoiando os trabalhadores do campo. Foi a Cáritas que promoveu a aproximação do grupo com o MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - e ajuda nas negociações com o INCRA. Valéria conta: “lutamos muito para conseguir um pedaço de terra. Ficamos muito tempo acampados debaixo de um viaduto da mineradora Vale. Queríamos ocupar a fazenda que estava improdutiva, mas devido à Medida Provisória do FHC e mantida por Lula, não ocupamos”. (Trata-se da Medida Provisória 2183-56/01, que proíbe a vistoria de imóveis rurais ocupados por sem terra.) Em 21 de dezembro de 2003, cansados de esperar pela prévia vistoria do INCRA, as famílias sem-terra ocuparam a fazenda da qual, somente em 2006, receberam a posse.
Hoje, o grupo conta com vinte famílias de pequenos agricultores rurais; outras cem desistiram ao longo da luta. As tarefas são divididas entre os assentados e o trabalho coletivo é realizado sob a liderança das mulheres. Por isso, o nome do assentamento “Pastorinhas”, uma homenagem a essas mulheres que tanto conquistaram durante os anos de dedicação ao movimento de luta pela terra.
As famílias ainda enfrentam grandes dificuldades, como a falta de energia elétrica, o desconforto dos barracos – as famílias continuam morando em barracos de lona-preta devido à morosidade para se conseguir o crédito para habitação – o perigo de ataque de animais, entre outros. Entretanto, percebemos que, no Pastorinhas, os trabalhadores/as estão construindo, através da agroecologia, uma alternativa para se viver bem no campo, resgatando a cultura dos antepassados, produzindo alimentos de qualidade para todos, do campo e da cidade, e uma relação harmoniosa entre os seres da natureza.